domingo, 17 de abril de 2011

BRINCANDO É QUE SE APRENDE


    1. Resumo
Este texto procura pontuar alguns aspectos importantes na relação do brincar com a educação infantil. Destaca a sua importância para o desenvolvimento da criança nesta faixa etária, assim como o papel do educador neste processo, o mediador, que irá favorecer estes momentos e espaços para a criança. Para isso baseou-se em experiências observadas e vivenciadas em um grupo de educação infantil, assim como em leituras teóricas e subsídios como o documentário Crianças Invisíveis, buscando relacionar e significar na prática esta ligação da criança com o brincar.
 Palavras chave: Brincar, brincadeiras, criança, educador, desenvolvimento, aprendizagem.

2. Introdução
Este trabalho nasceu da necessidade que temos, enquanto educadores, de valorizar o ato de brincar como a atividade mais importante de nossas crianças. Muitas vezes por parecer tão óbvio acaba se tornando trivial e passa despercebido. Neste sentido o texto procura intensificar o valor do brincar, mostrando que as brincadeiras em suas diferentes formas fazem parte da vida desde que nascemos e que contribuem significantemente no desenvolvimento integral e na aprendizagem da criança, e que nosso papel neste processo é de extrema importância.
Na intenção de aproximar realidade e teoria foram feitas comparações com situações cotidianas, buscando referências relacionadas ao espaço, tempo e organização do brincar na escola infantil. Além de bases teóricas e textos relacionados ao assunto.

3. O brincar e o desenvolvimento integral da criança
 Este tema é de extrema importância, já que criança aprende brincando. Porém muitas vezes esquecemos o verdadeiro significado do brincar, o valor que deve ser dado a este momento, a forma como nós professores podemos encaminhar a brincadeira em nossa rotina. Estas questões nos fazem refletir sobre o quanto sabemos e o quanto ainda precisamos buscar sobre este tema.
            Para criança brincar é uma atividade fundamental, através do brinquedo ela desenvolve aspectos importantes como sua identidade e autonomia. Enquanto brinca ela aprimora sua capacidade de socialização interagindo e experimentando regras e papéis sociais, além de desenvolver sua atenção e imaginação. O faz de conta tem um papel relevante nas brincadeiras, pois é neste momento que a criança exterioriza situações, imita ações dos adultos, realiza seus desejos, faz inversões de papéis (bom/mal, feio/bonito, prazer/desprazer). Com um olhar atento podemos perceber muito de nosso aluno nestes momentos.
            Segundo Vigotsky a criança se apropria do mundo real por meio do brinquedo, ele permite que ela domine conhecimentos, se relacione e se integre culturalmente. Desta forma, enquanto brinca ela elabora e resolve situações conflitantes que vivencia no seu dia a dia, utilizando a observação, imitação e imaginação a criança aprende a lidar com normas e regras sociais, desenvolve sua linguagem e vai adquirindo melhor compreensão de si e do outro.
            Brincando a criança faz descobertas, amplia seus conhecimentos e habilidades cognitivas, motores, lingüísticos. Desenvolve-se plenamente, expressa emoções e interage com o mundo. Para isso é preciso que se ofereça um ambiente que oportunize estas interações de forma prazerosa e significativa.
            No documentário Crianças Invisíveis podemos perceber claramente esta relação da criança com o brinquedo, mesmo quando não podiam brincar por estarem em território de guerra, encontravam uma forma de conservar pelo menos a lembrança de suas brincadeiras escondendo brinquedos como estilingue, ou brincando de roda, assim como imaginando situações que sonhavam ou idealizavam, como o simples fato de freqüentar a escola. Além disto, também fica visível no filme que, independente de classe social ou etnia o brincar será sempre um ato natural da criança, espaço para manifestar suas emoções e sua visão de mundo.
            Percorrendo diferentes locais percebe-se que as brincadeiras são semelhantes, apenas ganham um toque especial de cada cultura, as cantigas de roda e a musicalidade embalam a maioria das brincadeiras, assim como a corda, o balanço, as bonecas, o jogo de bolas e até o mais atual dos brinquedos, o vídeo game tem espaço garantido entre as preferências mundo a fora.
            O documentário permite-nos perceber que as crianças com as quais iremos trabalhar são humanas e reais, com problemas, dificuldades sociais, afetivas, e que muitas vezes encontram no brinquedo sua única forma de fugir da vida dura e sofrida. E é este seu espaço para ludicidade, criatividade, onde até mesmo sua sombra pode tornar-se o melhor brinquedo do mundo. Além de nos propor uma viagem ao nosso "eu criança", o resgate da criança que temos dentro de cada um, o que nos fará também educadores mais humanos, sensíveis e atentos às necessidades de nossos alunos.
            Embora saibamos que trabalhamos com crianças reais, muitas vezes acabamos colocando apenas o nosso olhar sobre elas, sobre suas brincadeiras. Nesta posição deixamos de atender a maioria de suas expectativas em relação à escola; criando frustrações, ignorando como realmente vêem e percebem o mundo, sua bagagem e suas vivências, tornando o ambiente da sala de aula pouco interessante.
“Temos uma imagem empobrecida da criança... a reduzimos a um par de olhos, uma mão que pega... Através disso há um sujeito cognacente, alguém que pensa que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu”. (Ferreiro)
Se tentássemos, nos colocar por alguns segundos no lugar de cada uma, quem sabe entenderíamos um pouco mais sobre elas, se tivéssemos um olhar mais intencional em suas brincadeiras, também descobriríamos mais do que são, do que sentem, do que vivem em casa, na família, no seu dia a dia. O que nos oportunizaria um trabalho com um olhar voltado realmente para suas necessidades e expectativas.

4. O papel do educador
            Tornar as brincadeiras significativas para as crianças, mediar estes momentos de forma positiva, buscar alternativas que integrem realmente o brincar a aprendizagem, são objetivos aparentemente triviais e rotineiros. Na verdade estes são desafios que os educadores precisam vencer a cada dia, e a busca de fundamentação teórica, experiências práticas, vivências diárias serão fundamentais neste processo.
            O papel do professor é criar condições para que as crianças brinquem incentivar e propor o que se fará para que a brincadeira tenha início, organizar a sala com brinquedos estimulando o início de uma brincadeira, mas dando liberdade para que a criança mude o rumo da mesma conforme seu interesse e necessidade naquele momento.
                                                                                                                                      
5. Um espaço para brincar
           Tenho percebido em minhas observações e principalmente em minha prática docente a enorme dificuldade que se tem em organizar um espaço que dê conta das brincadeiras de maneira plena, ou que pelo menos se aproxime de um ambiente rico em possibilidades para que a criança possa experimentar organizar-se, criar e recriar.  As instituições dispõem de pouco espaço físico e o educador muitas vezes tem dificuldades para adaptar o mesmo, buscar alternativas.
            Na instituição pesquisada procura-se dar o maior espaço possível para o brincar, para o lúdico. São realizadas brincadeiras de roda, cantadas, de movimentos, imitações, dramatizações. No pátio as brincadeiras são mais livres, com motos e pracinha. A professora entende o brincar como uma das principais atividades das crianças, mas admite a dificuldade em proporcionar os momentos de brincadeiras. Entende que elas aprendem brincando e que isto não se separa desta forma procura elaborar seu planejamento com brincadeiras, muita música e histórias, que são coisas que muito interessam a sua turma.
            Talvez se abríssemos nossa sala para as brincadeiras mais simples, como, corrida do saco, trava línguas, parlendas, tornaríamos o espaço mais rico mesmo que pequeno fisicamente. Quem sabe aquele carrinho de sucata, bola de meia. Rolar na grama, pega-pega, esconde-esconde podem fazer a festa de todos, alunos e professores, na praça do outro lado da rua. Isto mesmo, todos. Brincar junto é o primeiro passo, convidar para brincar, sugerir brincadeiras. Claro que não o tempo todo, as crianças também precisam de privacidade, liberdade para brincar sem o olhar vigilante do educador, que deve garantir a segurança e o direito a livre manifestação de todos.
            Precisamos resgatar o brincar por brincar, o espaço do lúdico, do faz de conta.  Para isso é preciso um ambiente seguro, pensado para a criança, que lhe ofereça possibilidades de criar, brincar em grupo ou sozinha. Espaços como cantos de fantasias, bonecas, carrinhos, onde eles possam trabalhar todos os aspectos da imaginação, socialização, afetividade, expressar emoções, reviver situações. Segundo Dornelles o prazer do brincar está no olhar, curtir, tocar, experimentar, o que faz parte da criança, da descoberta na infância e da construção de novos sujeitos-crianças.                              


6. Tipos de brincadeiras
           Brincando a criança trabalha com vários aspectos de seu desenvolvimento. Por isso todas as formas de brincar são importantes e devem fazer parte de seu cotidiano.
Algumas questões estão diretamente relacionadas com este ato de brincar, como por exemplo, o desenvolvimento da fala, autonomia e identidade, exploração dos movimentos corporais, através das brincadeiras cantadas e de rodas, o conhecimento de si e do mundo, que acontece a todo o momento em que as crianças desafiam seus limites, ampliando ao brincar, seus movimentos, sua coordenação e motricidade. Nas atividades plásticas, de desenhos, pinturas, massinha de modelar, onde a criança, de forma lúdica, além de trabalhar sua motricidade utiliza e explora sua imaginação.

O brincar apresenta-se por meio de várias categorias de experiências que são diferenciadas pelo uso do material ou dos recursos predominantemente implicados. Essas categorias incluem: o movimento e as mudanças de percepção resultantes essencialmente da mobilidade física das crianças; a relação com os objetos e suas propriedades físicas assim como a combinação e associação entre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários níveis de organização a serem utilizados para brincar; os conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e atitudes que se referem à forma como o universo social se constrói; e finalmente, os limites definidos pelas regras, constituindo-se em um recurso fundamental para brincar. (Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil, vol.1, p.28).                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

A mediação do educador nestes momentos torna-se indispensável como um motivador atento, que estimula, instiga a criança, problematiza e provoca questionamentos. Como um mediador e estruturador, organizando objetos, espaços e tempos para as brincadeiras. Valorizar as brincadeiras é possibilitar um processo pleno de ensino-aprendizagem.

7. Conclusão
            O ato de brincar deve ser cada vez mais valorizado. É através dele que a criança trabalha seus medos, imita os adultos, cria situações e aprende a lidar com elas, faz de conta, trabalha suas habilidades motoras, estimula sua criatividade. Brincando ela interage, explora, investiga, conhece, percebe o mundo que a rodeia e participa socialmente do mesmo. Desta forma o educador tem um papel fundamental, o de facilitador deste processo. É dele a iniciativa de organização do espaço, de observação atenta, não no sentido de vigilância e sim como um mediador, que estimula a criança, cria e oferece possibilidades para que ela crie, tornando este brincar um momento significativo e prazeroso da aprendizagem.
            Na educação infantil tem-se o privilégio de aprender brincando, e brincando a criança está estimulando e avançando em todos os aspectos de seu desenvolvimento.       
                   
                       
8. Referências

CRAYDI, Carmem (org.). O educador de todos os dias: convivendo com crianças de 0 a 6 anos. Porto Alegre: Mediação, 1998.

CRIANÇAS INVISÍVEIS. Itália, 2005.

FERREIRO, EMÍLIA. Reflexões sobre alfabetização, São Paulo, Cortez. 1992.

JUNQUEIRA, GABRIEL DE ANDRADE. Interdisciplinaridade na pré-escola: anotações de um educador “on the road”. São Paulo. Pioneira Thomson Learning, 2003.

MOÇO, Anderson. Quanta coisa eles aprendem. Nova Escola, edição nº231, p. 42-50, abril/2010.


REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA EDUCAÇÃO INFANTIL. Ministério da educação e do desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Volumes1/3.

TONUCCI, Francesco. Com olhos de criança, Artmed, 2003.

VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente, São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1998.


Autora: Gisele Aparecida do Amaral *
*Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Pelotas.

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