sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Como organizar o planejamento na perspectiva do tema gerador

Através das leituras que foram realizadas ao longo do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância (CLPD), pudemos construir os conhecimentos que darão sustentação ao trabalho que iremos desenvolver enquanto professores.
Esses saberes que foram construídos nos deram a percepção de que é fundamental que o professor se aproxime da escola na qual irá atuar, que se abra ao diálogo com as pessoas do lugar, procurando, assim, conhecer o entorno no qual a escola está inserida, conhecer as pessoas para entender quais as suas expectativas e reais necessidades, a fim de que possamos conhecer as diferentes realidades, respeitando essas pessoas enquanto sujeitos.
Percebemos a importância do conhecimento da realidade vivenciada pelos alunos, de suas experiências, de seus conhecimentos e saberes, e, é preciso considerar estes conhecimentos trazidos pelos mesmos, pela comunidade do entorno escolar, para que, partindo de seus conhecimentos de vida, possamos contribuir através da educação, expandindo seus horizontes, oferecendo meios para que o aluno construa novos saberes a partir do que ele já sabe ou conhece.
Na escola, é importante que o professor saiba enxergar seus alunos como pessoas capazes de aprender, e, além disso, que tenha a sensibilidade de enxergá-los como seres humanos, que necessitam de meios para desenvolver-se em todos os aspectos: físico, emocional/afetivo, psicológico, social, intelectual/cognitivo e psicomotor. E o professor deve, também, perceber o aluno como um ser ativo no processo de ensino-aprendizagem. Aqui, entendemos, então, a importância de compreendermos a realidade dos sujeitos, da aproximação das pessoas, tendo como princípio o respeito aos sujeitos, entendendo a importância do conhecimento que temos da realidade, do entendimento do entorno onde a escola está inserida, das expectativas, interesses e necessidades dos alunos, a fim de que possamos, a partir desta percepção, desenvolver o planejamento que possibilite a realização de um bom trabalho e que possamos oferecer um ensino mais significativo e relevante para a comunidade.
O professor deve ser um investigador da realidade para que compreenda os sujeitos, suas dificuldades, seus avanços, suas vivências, para que possa contribuir de alguma forma que fala com que os sujeitos tenham oportunidades de acesso a outros saberes, proporcionando na escola a construção de novos conhecimentos que possam vir a transformar as vidas das pessoas, bem como da sociedade.
A organização de um processo educativo, que tenha essa concepção de ensino que proporcione crescimento, que seja capaz de vir a transformar realidades, não é fácil, pois é um longo processo, uma longa caminhada que precisamos percorrer.
É preciso investigar a realidade, buscando contextualizá-la, partindo da perspectiva de que a investigação-ação contribui ao trabalho docente a partir da descoberta de temas geradores que sejam realmente relevantes e significativos às pessoas do lugar.
Os temas geradores serão o resultado do caminho percorrido através da aproximação com a realidade da escola parceira e de nossa investigação, de nossa busca por temas que tenham significado e relevância para os sujeitos, entendendo as relações entre homem e mundo, buscando, descobrindo, elegendo quais conteúdos devem constar no programa de ensino, considerando as diferenças regionais e locais, e, também, as diferentes linguagens e áreas de conhecimento.
Ao retomarmos as problematizações feitas nos eixos, através dos diferentes movimentos e textos trabalhados ao longo do curso, conseguimos compreender a necessidade de trabalharmos estabelecendo relações entre os conteúdos curriculares à realidade e aos conhecimentos e saberes que os alunos já possuem. É preciso considerar e contextualizar o que consta nos programas de ensino às diferentes realidades vividas pelos alunos e pela comunidade escolar como um todo, pois estabelecendo relações, contextualizando a realidade dos sujeitos na construção e organização do processo educativo, os conteúdos não serão apresentados de maneira desconexa destas realidades.
Em nossas práticas de ensino, os trabalhos de estágio realizados até o momento, encontramos uma escola onde os professores ainda não tem essa percepção da realidade, no sentido de procurar e saber contextualizar os conteúdos curriculares à realidade dos educandos, o que não é tarefa realmente fácil. Os conteúdos curriculares ainda são ensinados de maneira descontextualizada, desconsiderando a realidade dos educandos, a possibilidade de trabalharmos com temas geradores, que vão ao encontro dos interesses dos alunos, e a interdisciplinaridade.
A aproximação com os pais também se torna difícil, já que muitos não buscam mais os filhos na escola, não demonstram interesse pela vida escolar dos mesmos, ou, quando demonstram, cobram demais das crianças.
O relacionamento com as pessoas do lugar é bom, embora tenhamos notado certo distanciamento dos pais, das famílias, o que impõe alguns limites às ações dos professores, que não dão conta de tantas responsabilidades, já que muitos ‘empurram’ todas as responsabilidades para a escola, para o professor.
Podemos dizer que a efetivação da proposta de trabalho docente a partir de temas geradores se torna mais complicada no momento em que nos deparamos com a obrigatoriedade de cumprir o programa de ensino, que o trabalho seja realizado de determinada maneira, enfim, ainda são encontradas barreiras entre o que queremos fazer, o que podemos e o que devemos fazer. O que devemos fazer sempre prevalece.
Nos estágios do curso, conseguimos colocar em prática alguns dos conhecimentos adquiridos, procurando agir de acordo com a proposta do mesmo. Embora tenhamos nos deparado com algumas resistências, acreditamos que o curso nos faz enxergar a educação de outra maneira, no sentido de procurar compreender as diferentes realidades das escolas, dos educandos, do entorno onde as escolas estão inseridas, percebendo os sujeitos como seres capazes de se tornarem participantes ativos no próprio processo de ensino-aprendizagem.
É preciso entender, ainda, a educação como um processo de libertação da opressão sofrida pela elite dominante que inibe, discrimina, ironiza os mais pobres, compreendendo que os sujeitos são autores de sua própria história, e, que através da educação é possível melhorar a vida das pessoas.
Entendemos que uma educação libertadora só existirá quando houver o respeito aos sujeitos, quando a educação for pensada para o povo, a favor do povo, organizando o trabalho docente a partir do conhecimento da realidade, tendo nos temas geradores, escolhidos a partir dos interesses e reais necessidades dos sujeitos, o norte para desenvolver os conteúdos curriculares que estão presentes nos programas de ensino, dando aos mesmos um maior sentido e relevância.
O planejamento deve, portanto, ser organizado pelo professor a partir do que os alunos já sabem ou conhecem, partindo dos seus interesses e proporcionando a construção de novos conhecimentos e saberes.


Referências:
*        KIELING, José Fernando [et al.]. A subjetividade do lugar e dos professores na formação: o curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância/UFPel. Licenciatura em Pedagogia a Distância UFPel. Edição: 2010. Pelotas: Editora e Gráfica Universitária, 2010. 256p.: il. color.
*        FREIRE, Paulo. A dialogicidade – essência da educação como prática da liberdade. In: Pedagogia do Oprimido. 11ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. P.44-69.

Autora:* Micheli Beatris da Rosa
*Aluna do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância – UFPEL/UAB

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